Foto: Carnaval no AFC-Sou o do meio de calça comprida e dedos em "V"
Olhando para o
carnaval de hoje, lembrei-me dos carnavais da minha infância na cidade de
Natal, no bairro do Tirol, lá pelos idos dos anos 70. Era a minha melhor
diversão. Eu aguardava ansiosamente a folia de Momo chegar para, junto com os
amigos da rua, molhar as pessoas e os carros que trafegavam pelo nosso pedaço.
O bom mesmo era pegar um motorista desprevenido, com os vidros do carro
abertos. Tínhamos baldes, latas, bombas de água (uma espécie de seringa
gigante, feita de cano de água e um cabo de vassoura com sola de chinelo de
borracha nas extremidades, que ao sugar a água, enchia o cano). Ficávamos em
bandos nas esquinas, escondidos, esperando passar um carro para dar aquele
banho. Quando o motorista parava o carro, depois de um banho exemplar, saíamos
correndo desesperados com o coração aos pulos. Lembro-me de sair com meu pai de
carro, e de longe enxergávamos os meninos nas esquinas escondidos. Tínhamos que
ser rápidos nas manivelas dos vidros, pois eles também corriam em direção ao
carro. Meu pai ficava enlouquecido se tomava um banho, descia do carro,
gritava, xingava... Tinha que se dirigir naqueles dias de carnaval muito
atento, porque as maiorias das ruas de Natal estavam repletas de moleques e
adolescentes, ávidos para dar um banho em alguém que aparecesse. Era tudo tão
saudável e cheio de adrenalina. Havia também os blocos que “assaltavam” as
casas. Lembro-me da felicidade, quando a minha casa foi “assaltada” por
centenas de foliões. Quando uma casa era “assaltada”, o dono tinha que dar
bebida, comida, etc..., mas geralmente os “assaltantes” do bloco chegavam
sempre munidos de whiskey e lança-perfume, todos “melados”. No nosso lar doce
lar, foi uma alegria só. Meu pai se divertiu com toda aquela bagunça em casa.
Minha mãe ficou enlouquecida de ter a casa invadida por dezenas de foliões
famintos, embriagados e uma banda tocando nas alturas. Eu pirei aquele dia.
Havia, ainda, a tal da lança-perfume, que representava o mistério, a
transgressão em época de ditadura militar. Também rolava a tal da “loló”, mais
“pesada”, à base de éter, clorofórmio e outras químicas mais. Era avidamente
inalada nos banheiros dos clubes clandestinamente. A noite era só para os
adultos. Eu frequentava as matinês do América Futebol Clube. Pulei muito
carnaval na sede do alvirrubro natalense. Adorava recolher os confetes do chão
para jogar de novo para o alto e ver cair na cabeça das pessoas e ficar
grudado. As serpentinas voavam alto. No salão do clube, improvisávamos um longo
trenzinho humano, que ficava rodando todo o salão lotado de gente “pulando” ao
som daquela banda que soava os metais nas alturas. À noite, era a vez dos
adultos. Meus pais se fantasiavam e se juntavam a outros casais amigos no
clube. Era diversão garantida. A minha irmã mais velha, o namorado e a turma
deles também não deixavam por menos. Toda a família pulava carnaval. Meu pai
era sócio do América e eu também frequentava as piscinas do clube todos os
domingos. Os carnavais passados, de clube e rua, tinham sua magia, seu
encanto... Daquele período, trago boas recordações... mas não me tornei um
folião. Ou será que existe um arlequim adormecido dentro de mim, esperando um
dia despertar e cair na folia? Hoje quem acordou foram as recordações,
lembranças dos meus dias de carnaval, quando não existia violência. Só paz,
amor, alegria, o dedo em “V” e a minha inocência sobre o mundo e os desejos do
corpo.
Carnaval de 2013
With a little help from my friends P.J.
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