Outro dia tive um insight que me fez entender o porquê de eu
gostar tanto de gatos. Percebi que me identifico com eles em um aspecto (entre
tantos outros): o apego ao lar! Não quero dizer com isso que eles se apegam a
casa e não ao dono... Esses mitos que falam deles, que dizem que gato não se
apega ao dono e sim a casa, que gato é traiçoeiro, etc.. Coisas inventadas por
quem nunca teve gato e acaba repetindo esses
chavões como um hábito preconceituosos. Sim,
o gato também elege uma pessoa da casa, de maneira felinamente devocional para receber seu amor e carinho, e até diria , de um modo tanto possesivo. Esse
apego exagerado do gato, também se estende para seu lar, para seu território,
seu espaço ,sua casa...é nesse ponto que eu me identifico. Estou numa fase de troca de lar,
de habitação, numa fase de transição mesmo, de abandono de um lar onde morei
muitos anos e tive que mudar para outro. Esse processo de mudança e adaptação
ao novo espaço exige paciência para se processar, sentindo a energia do novo espaço ir procurando se acostumar aos novos cheiros, sons, cores, cantos ,me
sinto como um gato que ao se deparar com um novo lar, chega desconfiado ,curioso,
e aos poucos vai se apegando, se ajeitando, encontrando cantos para relaxar, como
um começo de um novo relacionamento. Vou aos poucos deixando meu cheiro pelo
apartamento, marcando cantos específicos e buscando interagir com as novas formas...
Cada compartimento novo, aos poucos vou fazendo o reconhecimento, até sentir-me
aconchegado, e protegido no novo território... O abandono do antigo lar é também um processo gradativo de desapego, ficam
os rastros, as marcas e recordações pelas paredes, teto, chão e na memória. São fatores que devem ser transplantados com cuidado para a nova
habitação e outros até descartados. Assim estou atualmente, em transição de
território, como não tenho uma pessoa para trocar e receber carinhos, me esfregar e
pular no colo , me apego aos cantos do novo apartamento, aos livros, às musicas
e principalmente ao quarto de dormir e a cozinha... Vou, aos poucos, deixando minhas
marcas pelas paredes do apartamento, esbarrando meu corpo, deixando meu cheiro,
me aconchegando devotamente ao novo lar fazendo dele meu mais novo templo de solidão
e refugio.
Alipio Raposo-Dez-2012