quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

INSTINTO FELINO - I




Outro dia tive um insight que me fez entender o porquê de eu gostar tanto de gatos. Percebi que me identifico com eles em um aspecto (entre tantos outros): o apego ao lar! Não quero dizer com isso que eles se apegam a casa e não ao dono... Esses mitos que falam deles, que dizem que gato não se apega ao dono e sim a casa, que gato é traiçoeiro, etc.. Coisas inventadas por quem nunca teve gato e acaba repetindo  esses chavões como  um hábito preconceituosos. Sim, o gato também elege uma pessoa da casa, de maneira felinamente devocional  para receber seu amor e carinho, e  até diria , de um modo tanto possesivo. Esse apego exagerado do gato, também se estende para seu lar, para seu território, seu espaço ,sua casa...é nesse ponto que eu  me identifico. Estou numa fase de troca de lar, de habitação, numa fase de transição mesmo, de abandono de um lar onde morei muitos anos e tive que mudar para outro. Esse processo de mudança e adaptação ao novo espaço exige paciência para se processar, sentindo a energia do novo espaço  ir procurando se acostumar  aos novos cheiros, sons, cores, cantos ,me sinto como um gato que ao se deparar com um novo lar, chega desconfiado ,curioso, e aos poucos vai se apegando, se ajeitando, encontrando cantos para relaxar, como um começo de um novo relacionamento. Vou aos poucos deixando meu cheiro pelo apartamento, marcando cantos específicos e buscando interagir com as novas formas... Cada compartimento novo, aos poucos vou fazendo o reconhecimento, até sentir-me aconchegado, e protegido no novo território... O abandono do antigo lar é também um processo gradativo de desapego, ficam os rastros, as marcas e recordações pelas paredes, teto, chão  e na memória. São fatores que devem  ser transplantados com cuidado para a nova habitação e outros até descartados. Assim estou atualmente, em transição de território, como não tenho uma pessoa  para trocar e receber carinhos, me esfregar e pular no colo , me apego aos cantos do novo apartamento, aos livros, às musicas e principalmente ao quarto de dormir e a cozinha... Vou, aos poucos,  deixando minhas marcas pelas paredes do apartamento, esbarrando meu corpo, deixando meu cheiro, me aconchegando devotamente ao novo lar fazendo dele meu mais novo templo de solidão e refugio.
Alipio Raposo-Dez-2012