terça-feira, 20 de setembro de 2011

A MINHA DOR

 
       A minha Dor é um convento ideal
       Cheio de claustros, sombras, arcarias,
       Aonde a pedra em convulsões sombrias
       Tem linhas dum requinte escultural.
       Os sinos têm dobres de agonias
       Ao gemer, comovidos, o seu mal...
       E todos têm sons de funeral
       Ao bater horas, no correr dos dias...
       A minha Dor é um convento. Há lírios
       Dum roxo macerado de martírios,
       Tão belos como nunca os viu alguém!
       Nesse triste convento aonde eu moro,
       Noites e dias rezo e grito e choro,
       E ninguém ouve... ninguém vê... ninguém...

     (Florbela Espanca)